Felipão costura paz com Frizzo e usa carisma para abafar crise

Felipão costura paz com Frizzo e usa carisma para abafar crise

 . Foto: Léo Pinheiro/Terra Prometia ser uma quinta-feira daquelas para o Palmeiras: especulações davam conta de que Luiz Felipe Scolari poderia deixar o cargo, sobretudo por desavenças com o vice Roberto Frizzo. Arnaldo Tirone, que praticamente terceirizou o departamento de futebol para Frizzo, teve de aparar arestas entre os dois, e o Palmeiras, no fim da noite, ainda precisaria encerrar um jejum de quatro jogos sem vitória diante da traiçoeira equipe do Bahia.

No fim das contas, a equipe palmeirense não passou de um empate diante de pouco mais de 6 mil pessoas - uma parte bem razoável de torcedores do Bahia - que foram ao Canindé, mas aparentemente a situação foi remediada internamente sem grandes sobressaltos. Após o jogo, Frizzo e Felipão enfim concederam entrevistas, já que até então só haviam falado por meio de notas oficiais.

"Estou há 40 anos no clube, ou mais, já passei por todos os cargos e conheço todos os atalhos, caminhos e conselheiros. Sei quando e como as coisas funcionam. São meia dúzia de ratazanas de esgoto", argumentou Frizzo, que fez a metáfora com ratos em nota oficial e também durante três vezes na coletiva pós-jogo com o Bahia. "A paixão continua a mesma", disse sobre Felipão.

Roberto Frizzo também usou a frase "somos uma família italiana, discussões acontecem", para justificar as desavenças com Felipão. O treinador mais uma vez definiu a relação com o vice de futebol como "normal, profissional". Mas, pela primeira vez desde que assumiu o departamento junto com o presidente Arnaldo Tirone, Frizzo fez discurso contra a arbitragem, reclamando principalmente de André Luiz de Freitas Castro, já que o gol do Bahia foi em impedimento. De certo, a iniciativa do dirigente é um ajuste interno de conduta motivado por Felipão.

"Pela primeira vez vou falar sobre a arbitragem. Notamos uma sequência consistente de erros contra nossa equipe. Quero deixar claro que são irrecuperáveis e que vejam com atenção esses equívocos", disse com tranquilidade ao pedir a palavra. Felipão talvez preferisse o estilo explosivo de Toninho Cecílio, que foi gerente de futebol remunerado em boa parte da gestão Luiz Gonzaga Belluzzo.

"Vinha o Cecílio aqui, vocês lembram como? Ele vinha hoje e quebrava tudo isso aqui, vocês lembram? Acho que o presidente poderia nomear mais um para tomar conta do que aconteceu hoje (erros de arbitragem), porque é piada", reclamou. Felipão também preferiu não dizer se deseja um dirigente profissional para fazer, em tempo integral, o intercâmbio entre a dupla Frizzo-Tirone e o elenco. "É assunto diretivo, não posso falar para vocês".

Felipão, entretanto, admitiu ter precisado assumir as rédeas junto de Galeano e ligar pessoalmente ao Atlético-MG, na última semana, para tentar a liberação do atacante Ricardo Bueno na negociação que levou Pierre para Minas Gerais. "O Frizzo ficou 10 dias fora do clube, sou amigo do Maluf (diretor atleticano) e não vejo problema em ajudar", minimizou.

Após o episódio, a tendência é que Tirone tente ficar mais perto para esfriar os ânimos entre seu treinador e seu vice de futebol, assim como atender desejos de Felipão. O técnico, aliás, percebendo ter abafado uma crise que se anunciava no início do dia, usou de todo o seu carisma e estilo bonachão para contornas versões veiculadas na mídia.

"Colocaram um desentendimento há dois ou três dias, mas se você for ver, eu estava bonitinho em um evento da Unimed (patrocinadora) todas as noites tirando fotos e participando do que tenho em contrato. Disseram que eu entrei na sala do Frizzo, mas eu não estava no Palmeiras. Estava lá, tirando fotos com as menininhas e os homens, tudo bem. Faz no mínimo uns 30 dias que eu não entro na sala do Frizzo", discursou.

Em seguida, sorridente, negou ter fechado as portas de sua sala na Academia de Futebol. "Como vou trancar? Todo mundo entra toda hora. Estou lá chamando alguém, brigando com alguém e entra um e fica lá. Então coloquei uma placa: bata antes de entrar. Nem tenho a chave, quem tem é o Joãozinho, que é nosso roupeiro", disse Felipão, arrancando risos dos repórteres e encerrando a crise com perspicácia e transparência. Ao menos por enquanto.